sexta-feira, 3 de abril de 2009

O Rio muda os rumos da mulher e da futura escritora


No Rio, ela selaria para sempre o seu destino: conheceu numa palestra o húngaro Franz Orban, quando trabalhava na biblioteca volante do Sesi, em 1952. Na foto do álbum de família, o casamento parecia “caretão”, como gostava de dizer Heloneida, sempre que mostrava a foto às visitas. Mas começaria ali um relacionamento diferente. Os dois passaram a morar em casas separadas depois que os filhos foram viver suas vidas. Mas o “Gordo”, como Heloneida se referia carinhosamente, e de forma brincalhona ao marido, conviveria com a líder feminista até o fim da vida: ficaram casados para sempre.

Helô, como gostava de ser chamada pelos amigos, procurava não se enquadrar às regras familiares, mas de uma coisa não escapou: se tornaria mãe de uma prole de seis filhos, todos homens, nascidos ao longo de dez anos: Francisco, João, Juarez, Marcos, Vicente e Cristóvão. Passou praticamente uma década como parideira. Costumava carregar as crianças atrás dela para o trabalho e alguns atuaram na política com a mãe até o fim da vida, como Cristóvão e João.

Heloneida era uma pessoa simples, alegre e gostava muito de cozinhar. Mas já avisava que só cozinhava para quem gostava. A vocação para a política e para a culinária fez Heloneida famosa também pelos pratos que cozinhava, como a Galinha Húngara, que acabou virando o cartão de visitas de vários encontros políticos e das suas campanhas.

Adorava de ver a família reunida em grandes almoços de fim-de-semana. Invariavelmente, recebia a todos sentada na sua cadeira de balanço, que ficava no centro do apartamento simples, de dois quartos, na Rua Gustavo Sampaio, no Leme, onde morou boa parte da vida. Depois do Leme e do Ceará, sua paixão era a casa de Maricá, onde passava as horas escrevendo e próxima dos netos, paixões tão grandes quanto os filhos.

Em 2006, a Fundação de Mulheres Suíças escolheu mil mulheres para concorrerem coletivamente ao prêmio Nobel da Paz. Dentre elas, 52 eram brasileiras e Heloneida estava entre elas, por causa de sua luta parlamentar e feminista.