
Trabalhou no Correio da Manhã e no Diário de Notícias, mas foi na Revista Manchete, da Bloch Editores, no início dos anos 70, que se destacou ficando durante oito anos como redatora e repórter. Com o fim do regime militar, a escritora-jornalista lançaria o que chamou de “Trilogia da tortura”: O pardal é um pássaro azul (que já foi traduzido em cinco idiomas); O estandarte da agonia (inspirado na vida de sua amiga Zuzu Angel); e O torturador em romaria.
Em 1974, Heloneida lança o livro “Mulher objeto de cama e mesa”,vendendo milhares de exemplares ao longo de muitos anos. Foi uma revolução para a época, quando muitos assuntos eram tabu na sociedade, como a pílula anticoncepcional e a luta pela ampliação do mercado de trabalho para as mulheres. Com o livro, Heloneida carimbava seu passaporte definitivo para o mundo do feminismo. No ano seguinte, quando houve a Conferência Internacional, no México, ela escreveu a peça “Homem não entra”. Como o próprio nome já indica, só aceitavam mulheres na platéia. A peça foi escrita por Helô e Rose Marie e tinha a atriz-radialista Cidinha Campos, que ainda não sonhava ser deputada, como protagonista. Foi um sucesso em todo o País.
Nem mesmo no parlamento descansou de sua atividade literária: abriu a Alerj ao povo ao escrever peças, de exibição gratuita, que levaram mais de 40 mil pessoas ao prédio do Palácio Tiradentes, sede do legislativo. E seguindo a veia jornalística, criou o projeto do canal legislativo, a TV Alerj, para dar transparência aos trabalhos dos deputados.
Em 2005, Heloneida teve a alegria de ver dois livros seus, de maior sucesso no Brasil, serem editados na França: “Pardal é um passaro azul” e “O Selo da Despedidas”. Mas a escritora deixou dois projetos inacabados: reescrever o livro “Deus não paga em dólar”, retirado das livrarias na época da ditadura militar, e escrever o livro “Luz que se apaga”, cujo personagem principal sofre do mal de Alzheimer, doença que acometeu o irmão da autora. Em relação ao primeiro livro, o escritor Francisco Orban, filho de Heloneida, conseguiu a promessa de uma editora em Paris de reeditá-lo em breve.
Como publicou, em 2005, um dos jornais mais tradicionais do mundo, o Le Monde, Heloneida Studart foi, ao longo dos seus 82 anos de vida, “uma matriarca subversiva das letras brasileiras”, por sua literatura regionalizada e profundamente marcada pelas questões sociais. Ela transgrediu também ao fugir dos padrões e das convenções de quem esperava que fosse mais uma mulher destinada ao casamento e à família. Contrariando os que pregam a luta entre sexos como uma das bandeiras do feminismo, pode-se dizer que Heloneida subverteu também neste quesito quando avaliou o papel da mulher neste nosso século: