quinta-feira, 2 de abril de 2009

Os anos de chumbo e a luta feminista


O interesse de Heloneida pela política começou muito antes de iniciar a vida pública como deputada, em 1978. Jornalista de sucesso, era filiada ao Partido Comunista Brasileiro e presidente do sindicato dos escritores, o Senalba. Presa em 1969, cassada pelo AI-5, perdeu o emprego em todas as redações e inclusive no Sesi, onde trabalhava na biblioteca volante, que levava livros para os conjuntos habitacionais na zona norte e no subúrbio. Ao ser presa, ganhou uma extensa ficha no Departamento de Ordem Política e Social, a polícia política do regime militar. Suas histórias da prisão deram origem a dois episódios do caso verdade da TV Globo: “Não roubaras” e “Quero meu filho”.

Um momento marcante no feminismo no Brasil se deu logo após o Congresso Internacional de Mulheres no México, em 1975. A jornalista fez a cobertura pela Revista Manchete e, no mesmo ano, ela, Rose Marie Muraro, Moema Toscano, Branca Moreira Alves, Fanny Tabak e Maria do Espírito Santo Cardoso criaram o Centro da Mulher Brasileira, considerado um dos precursores do movimento feminista no Brasil. A entidade existe ainda hoje e é presidida por Salete Macaloz, com quem Heloneida realizou várias campanhas em prol das mulheres.


O início da carreira política começou em 1978, pelo MDB, com 58 mil votos ainda durante o regime militar. Com o fim do bipartidarismo e a criação do PMDB, em 1979, fruto da fusão entre o PP e o MDB, a primeira eleição direta após a ditadura aconteceria em 1982. Heloneida estava filiada ao partido e perdeu para o fenômeno Brizola no Rio. Ela e vários candidatos do PMDB, como o amigo e advogado Marcelo Cerqueira, não conseguiram se reeleger. Derrotada, receberia da amiga e radialista Cidinha Campos o convite para ser redatora do programa Cidinha Livre, da Rádio Tupi, e se tornaria debatedora do programa que já era líder de audiência. Nessa época, Cidinha ainda não havia sido convidada por Brizola a se lançar na política. Estava selada ali uma aliança que duraria até o fim da vida.

Heloneida Studart voltou a exercer o mandato na Assembléia Legislativa de Janeiro, em 1986, filiada ao PMDB e com uma votação marcante. Em seguida, participou em Brasília do importante lobby em favor das mulheres, a “Bancada do Batom”, que reuniu diversas parlamentares na luta pela inclusão de novos direitos para as mulheres na Constituição, com destaque para a licença maternidade de 120 dias. Em 1990 filiou-se ao PT, de onde nunca mais saiu e se reelegeu nas eleições de 1994, ficou como suplente na de 1998,tomando posse em 2001 e se reelegeu em 2002 pela última vez. Em seu primeiro mandato pelo PT, durante o período das privatizações, destacou-se na luta pelo nacionalismo ao lado de figuras importantes como o jornalista Barbosa Lima Sobrinho e Luiz Inácio Lula da Silva.


Como deputada estadual, por seis mandatos, a deputada aprovou diversas leis que beneficiaram as mulheres, entre as mais recentes, a que garante a cirurgia reparadora da mama em mulheres mutiladas pelo câncer; a do exame de DNA gratuito na rede estadual para mulheres pobres; a que previne a síndrome acoólica fetal, entre outras. A íntegra das leis pode ser obtida no site da Alerj http://www.alerj.rj.gov.br/ clicando em “leis aprovadas”.

Durante todo o tempo em que esteve na Alerj, não fez apenas leis, se destacou como presidente da Comissão de Direitos Humanos e foi vice-presidente da Casa. Seu lema na vida pública como deputada estadual da Assembléia Legislativa, pode resumir sua atuação neste parlamento: uma vida de lutas, uma mulher de valor.